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Como a desigualdade de rendimentos prejudica as sociedades Outubro 20, 2012

Posted by netodays in estatísticas, inequidade, repartição do rendimento.
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Os economistas colocam sempre o crescimento do produto e do rendimento como condição necessária para o desenvolvimento, argumentando que antes de se distribuir a riqueza, esta terá que ser criada.

Richard G. Wilkinson argumenta que nos países desenvolvidos a riqueza criada já é suficiente, dependendo o nosso bem-estar do modo como esta se encontra repartida. Os gráficos abaixo mostram que não se verifica correlação entre o indicador da saúde e problemas sociais com o Rendimento Nacional Bruto per capita, mas que se verifica forte correlação daquele indicador com a inequidade(desigualdade) na repartição do rendimento.

No conjunto de países seleccionados, Portugal é mais pobre (menor Rendimento Nacional Bruto per capita) e aquele em que a esperança de vida é mais baixa (00:51);

Em cada país observar-se-ia que a esperança de vida aumenta com o nível de rendimento, porque os mais têm maior acesso aos cuidados de saúde (01:18);

Os países onde o rendimento se encontra pior distribuído são Singapura, EUA, Portugal e Reino Unido. O rendimento está mais equitativamente distribuído no Japão, Finlândia, Noruega e Suécia (02:32). No primeiro grupo a desigualdade de rendimentos duplica relativamente ao segundo, composto por democracias bem-sucedidas;

Verifica-se uma correlação positiva entre as desigualdades na repartição do rendimento e o índice de saúde e problemas sociais: esperança de vida, resultados dos alunos em matemática e literacia, taxa de mortalidade infantil, taxas de homicídio, proporção da população na prisão, taxas de natalidade na adolescência, níveis de confiança, obesidade, doenças mentais incluindo dependência de drogas e do álcool, e (ausência de) mobilidade social (03:07);

Observando os mesmos índices relativamente ao Produto Nacional Bruto per capita não se observa qualquer correlação (04:07);

O índice de bem-estar das crianças (calculado pela UNICEF) encontra-se inversamente correlacionado com a desigualdade na repartição do rendimento, isto é, os jovens têm pior bem-estar nas sociedades mais desiguais (04:45);

O índice de bem-estar das crianças não mostra qualquer correlação com o Rendimento Nacional per capita (04:58);

Estes dados sugerem que o bem-estar social nas nossas sociedades já não depende do Rendimento Nacional e do crescimento económico. Isso é muito importante em países mais pobres, mas não no mundo rico e desenvolvido. Mas as diferenças entre nós, e a posição que ocupamos relativamente aos outros, agora importam muito (05:12); Nos países onde o rendimento se encontra pior distribuído as pessoas confiam menos nas outras (05:36);

A percentagem das doenças mentais (indicador do OMS) é maior nos países com o rendimento pior distribuído (06:48);

As taxas de homicídio são mais elevadas nos estados dos EUA e províncias do Canadá onde o rendimento está pior distribuído (07:19);

A proporção da população na prisão é maior nos países com o rendimento está pior distribuído (07:35);

Os jovens abandonam o ensino secundário em maior proporção nos estados dos EUA onde a repartição do rendimento é mais desigual (08:07);

A mobilidade social é mais reduzida nos países com distribuição do rendimento menos equitativa. Será que os pais ricos têm filhos ricos, e os pais pobres têm filhos pobres? O rendimento dos pais é muito mais importante nos EUA, Reino Unido e Portugal que nos países escandinavos, onde a mobilidade social é mais efectiva. Os americanos que queiram viver o sonho americano devem emigrar para a Dinamarca! (08:19);

A Suécia e o Japão são países muito diferentes. Não importa como se consegue a maior igualdade, desde que se consiga obtê-la de algum modo (10:55);

Utilizando a taxa de mortalidade infantil, indicadores da educação ou da saúde, verifica-se que os benefícios da melhor repartição do rendimento não são extensivos apenas aos pobres, mas a todos os grupos sociais (11:25);

Os efeitos psicossociais da desigualdade, relacionados com sentimentos de superioridade e de inferioridade, de ser valorizado ou desvalorizado, respeitado ou desrespeitado. O sentimento de competição gerado pelo status guia o consumismo nas nossas sociedades, e leva também à insegurança do status. Preocupamo-nos mais com a forma como somos vistos pelos outros, se somos considerados atraentes, inteligentes, etc. Os juízos de avaliação social e o medo desses juízos, aumentam (12:50);

As tarefas que incluíam a ameaça da avaliação social revelaram-se mais stressantes. Ameaças à autoestima ou ao status social, em que outros podem julgar negativamente o nosso desempenho (14:00);

A correlação, só por si, não prova causalidade, mas parece demonstrado um stress crónico associado às disparidades sociais (15:33);

A mensagem a reter, é esta: podemos melhorar a qualidade real da vida humana através da redução das diferenças de rendimento entre nós. De repente, temos controlo sobre o bem-estar psicossocial de sociedades inteiras, e isso é excitante (16:26).

Gostava de ter escrito esta Setembro 8, 2012

Posted by netodays in inequidade, Troika.
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Não leves a mal; tiro-te um mês do teu salário para o dar ao teu patrão. É para criar emprego. Estás a ver?

Ladrões de Biciletas

A malta não gostou de confirmar que vão sempre aos bolsos dos mesmos – quanto aos rendimentos do capital Passos Coelho apenas fez uma referência breve, dando-lhes realmente um bónus -, e a Troika que a até aqui tem sido recebida com alguma simpatia passou a ser alvo de campanhas de protesto como esta. Já estão marcadas manifestações para dia 15, mas isto pelo Facebook é tudo muito rápido e nunca se sabe como fica.

Insucesso escolar, qualidade e equidade na educação e desenvolvimento económico Setembro 4, 2012

Posted by netodays in agenda oculta para a educação, inequidade, justiça, OCDE.
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  • A redução do fracasso escolar é positiva, tanto para a sociedade como para os indivíduos. Também pode contribuir para o crescimento económico e o desenvolvimento social. Na verdade, os sistemas de ensino com melhor desempenho entre os países da OCDE são aqueles que combinam qualidade e equidade. Equidade, na área da educação, significa que circunstâncias pessoais ou sociais como o género, a origem étnica ou o meio familiar não representam nenhum obstáculo para a realização do potencial educacional (equidade) e que todos os indivíduos atingem pelo menos um nível mínimo básico de formação (inclusão). Nesses sistemas educacionais, a vasta maioria dos alunos tem a possibilidade de atingir altos níveis de formação, independentemente das respectivas circunstâncias pessoais e sócio-económicas.
    Equidade e Qualidade na Educação. Apoio às escolas e aos alunos desfavorecidos, OCDE, 2012.

Continuando a ler o documento da OCDE, é fácil concluir que as suas propostas apenas são exequíveis com mais professores, o oposto do que está a fazer-se.

Sócrates, podes seguir em frente! Julho 21, 2008

Posted by netodays in estatísticas, FMI, inequidade, Socratelândia.
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Apesar de Portugal se estar submetido à disciplina da zona Euro, o FMI voltou a pronunciar-se recentemente sobre a economia portuguesa. No seu entendimento:

  • Estão a ser tomadas medidas decisivas, centradas no sector público, para corrigir os desequilíbrios acumulados durante os anos 90, e os resultados estão a ser visíveis. As condições mundiais mais frágeis tornam mais difícil e urgente fazer face aos desafios económicos de Portugal. As políticas deverão tirar partido dos progressos recentes e evitar pôr em causa os objectivos de longo prazo para obter ganhos a curto prazo. Isto significa que se deverá prosseguir a consolidação e as reformas orçamentais, mantendo a solidez do sistema financeiro e prosseguindo a implementação de reformas do lado da oferta, para tornar a economia mais produtiva e flexível e reactivar o processo de convergência.
    Relatório do FMI   Backup

Apesar de o país se estar a afastar dos padrões europeus, como “em média” continua viver acima das suas possibilidades, a receita é continuar a apertar o cinto daqueles que a quem é possível apertar mais. A crise não é sentida por todos, porque por exemplo, as vendas de automóveis, certamente de alta cilindrada, até estão a aumentar. Sobre a crescente inequidade na repartição do rendimento o relatório não diz uma palavra. Chama a atenção para a necessidade de evitar que os custos do trabalho degradem a competitividade da economia, e elogia “a solidez do sistema financeiro e bem supervisionado”(?). As famílias portuguesas estão muito endividadas porque compraram a sua habitação quando mal podiam adquirir uma bicicleta, mas “o Banco de Portugal está ciente destas vulnerabilidades, que não são novas, e tem adoptado uma abordagem pró-activa”, exigindo aos bancos o reforço dos amortecedores de liquidez, para fazer face a potenciais faltas de liquidez…

Pelo caminho que o FMI aconselha, cada passo em frente já sabe onde vamos dar.

Analise-se o percurso que temos feito utilizando os próprios números do FMI. Em 1995 o Produto Interno Bruto per capita português não se afastava tanto do espanhol nem do grego. Em 2006 fomos passados pela Eslovénia. A distância relativamente aos outros países aumenta se perspectivarmos 2013.

Fonte: World Economic Outlook Database, FMI

Belo caminho!



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Programa de Estabilização Económica, 1978-79, também conhecido como primeiro pacote do FMI. Numa imagem sintetizam-se as políticas então propostas.

Sócrates, podes seguir em frente! Julho 21, 2008

Posted by netodays in estatísticas, FMI, inequidade, Socratelândia.
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Apesar de Portugal se estar submetido à disciplina da zona Euro, o FMI voltou a pronunciar-se recentemente sobre a economia portuguesa. No seu entendimento:

  • Estão a ser tomadas medidas decisivas, centradas no sector público, para corrigir os desequilíbrios acumulados durante os anos 90, e os resultados estão a ser visíveis. As condições mundiais mais frágeis tornam mais difícil e urgente fazer face aos desafios económicos de Portugal. As políticas deverão tirar partido dos progressos recentes e evitar pôr em causa os objectivos de longo prazo para obter ganhos a curto prazo. Isto significa que se deverá prosseguir a consolidação e as reformas orçamentais, mantendo a solidez do sistema financeiro e prosseguindo a implementação de reformas do lado da oferta, para tornar a economia mais produtiva e flexível e reactivar o processo de convergência.
    Relatório do FMI   Backup

Apesar de o país se estar a afastar dos padrões europeus, como “em média” continua viver acima das suas possibilidades, a receita é continuar a apertar o cinto daqueles que a quem é possível apertar mais. A crise não é sentida por todos, porque por exemplo, as vendas de automóveis, certamente de alta cilindrada, até estão a aumentar. Sobre a crescente inequidade na repartição do rendimento o relatório não diz uma palavra. Chama a atenção para a necessidade de evitar que os custos do trabalho degradem a competitividade da economia, e elogia “a solidez do sistema financeiro e bem supervisionado”(?). As famílias portuguesas estão muito endividadas porque compraram a sua habitação quando mal podiam adquirir uma bicicleta, mas “o Banco de Portugal está ciente destas vulnerabilidades, que não são novas, e tem adoptado uma abordagem pró-activa”, exigindo aos bancos o reforço dos amortecedores de liquidez, para fazer face a potenciais faltas de liquidez…

Pelo caminho que o FMI aconselha, cada passo em frente já sabe onde vamos dar.

Analise-se o percurso que temos feito utilizando os próprios números do FMI. Em 1995 o Produto Interno Bruto per capita português não se afastava tanto do espanhol nem do grego. Em 2006 fomos passados pela Eslovénia. A distância relativamente aos outros países aumenta se perspectivarmos 2013.

Fonte: World Economic Outlook Database, FMI

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Apesar de Portugal se estar submetido à disciplina da zona Euro, o FMI voltou a pronunciar-se recentemente sobre a economia portuguesa. No seu entendimento:

  • Estão a ser tomadas medidas decisivas, centradas no sector público, para corrigir os desequilíbrios acumulados durante os anos 90, e os resultados estão a ser visíveis. As condições mundiais mais frágeis tornam mais difícil e urgente fazer face aos desafios económicos de Portugal. As políticas deverão tirar partido dos progressos recentes e evitar pôr em causa os objectivos de longo prazo para obter ganhos a curto prazo. Isto significa que se deverá prosseguir a consolidação e as reformas orçamentais, mantendo a solidez do sistema financeiro e prosseguindo a implementação de reformas do lado da oferta, para tornar a economia mais produtiva e flexível e reactivar o processo de convergência.
    Relatório do FMI   Backup

Apesar de o país se estar a afastar dos padrões europeus, como “em média” continua viver acima das suas possibilidades, a receita é continuar a apertar o cinto daqueles que a quem é possível apertar mais. A crise não é sentida por todos, porque por exemplo, as vendas de automóveis, certamente de alta cilindrada, até estão a aumentar. Sobre a crescente inequidade na repartição do rendimento o relatório não diz uma palavra. Chama a atenção para a necessidade de evitar que os custos do trabalho degradem a competitividade da economia, e elogia “a solidez do sistema financeiro e bem supervisionado”(?). As famílias portuguesas estão muito endividadas porque compraram a sua habitação quando mal podiam adquirir uma bicicleta, mas “o Banco de Portugal está ciente destas vulnerabilidades, que não são novas, e tem adoptado uma abordagem pró-activa”, exigindo aos bancos o reforço dos amortecedores de liquidez, para fazer face a potenciais faltas de liquidez…

Pelo caminho que o FMI aconselha, cada passo em frente já sabe onde vamos dar.

Analise-se o percurso que temos feito utilizando os próprios números do FMI. Em 1995 o Produto Interno Bruto per capita português não se afastava tanto do espanhol nem do grego. Em 2006 fomos passados pela Eslovénia. A distância relativamente aos outros países aumenta se perspectivarmos 2013.

Fonte: World Economic Outlook Database, FMI

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Apesar de Portugal se estar submetido à disciplina da zona Euro, o FMI voltou a pronunciar-se recentemente sobre a economia portuguesa. No seu entendimento:

  • Estão a ser tomadas medidas decisivas, centradas no sector público, para corrigir os desequilíbrios acumulados durante os anos 90, e os resultados estão a ser visíveis. As condições mundiais mais frágeis tornam mais difícil e urgente fazer face aos desafios económicos de Portugal. As políticas deverão tirar partido dos progressos recentes e evitar pôr em causa os objectivos de longo prazo para obter ganhos a curto prazo. Isto significa que se deverá prosseguir a consolidação e as reformas orçamentais, mantendo a solidez do sistema financeiro e prosseguindo a implementação de reformas do lado da oferta, para tornar a economia mais produtiva e flexível e reactivar o processo de convergência.
    Relatório do FMI   Backup

Apesar de o país se estar a afastar dos padrões europeus, como “em média” continua viver acima das suas possibilidades, a receita é continuar a apertar o cinto daqueles que a quem é possível apertar mais. A crise não é sentida por todos, porque por exemplo, as vendas de automóveis, certamente de alta cilindrada, até estão a aumentar. Sobre a crescente inequidade na repartição do rendimento o relatório não diz uma palavra. Chama a atenção para a necessidade de evitar que os custos do trabalho degradem a competitividade da economia, e elogia “a solidez do sistema financeiro e bem supervisionado”(?). As famílias portuguesas estão muito endividadas porque compraram a sua habitação quando mal podiam adquirir uma bicicleta, mas “o Banco de Portugal está ciente destas vulnerabilidades, que não são novas, e tem adoptado uma abordagem pró-activa”, exigindo aos bancos o reforço dos amortecedores de liquidez, para fazer face a potenciais faltas de liquidez…

Pelo caminho que o FMI aconselha, cada passo em frente já sabe onde vamos dar.

Analise-se o percurso que temos feito utilizando os próprios números do FMI. Em 1995 o Produto Interno Bruto per capita português não se afastava tanto do espanhol nem do grego. Em 2006 fomos passados pela Eslovénia. A distância relativamente aos outros países aumenta se perspectivarmos 2013.

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É escandaloso que um gestor receba num mês o mesmo que um trabalhador em 13,7 anos! (*) Maio 12, 2008

Posted by netodays in inequidade, legitimidade para a acção, Luc Boltanski, racionalidade económica.
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Quando Helena Garrido procurava apresentar argumentos na esfera da racionalidade económica para justificar tamanha discrepância, não conseguiu melhor que o recurso à metáfora da água e dos diamantes. Foi obrigada a recorrer à metáfora precisamente porque não tem argumentos no âmbito da racionalidade económica.

O termo de comparação para os administradores portugueses, quando pensam no seu ordenado, são os administradores alemães, independentemente da produtividade das empresas. Já quando “estudam” os salários dos trabalhadores têm que ter necessariamente em conta a “produtividade das empresas”… Como resultado Portugal continua a desenvolver uma repartição do rendimento terceiro-mundista que cada vez mais nos envergonhará no contexto da União Europeia.

Luc Boltanski explica que os seres humanos convivem bem com uma multiplicidade de justificações contraditórias entre si, que seleccionam em função da situação em que se encontram.
Mais um exemplo. O protesto contra o desrespeito dos Direitos Humanos na China também convive muito bem o crescente consumo dos produtos chineses… não dá jeito nenhum pensar na política quando vamos às compras, não é?


(*) As contas são simples. http://vistodaeconomia.blogspot.com/ indica que o salário médio da administração foi, o ano passado, 164,1 vezes a remuneração média dos outros trabalhadores, no caso da Sonae SGPS – liderada por Paulo Azevedo, filho de Belmiro de Azevedo. 164,1/12=13,7.

É escandaloso que um gestor receba num mês o mesmo que um trabalhador em 13,7 anos! (*) Maio 12, 2008

Posted by netodays in inequidade, legitimidade para a acção, Luc Boltanski, racionalidade económica.
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Quando Helena Garrido procurava apresentar argumentos na esfera da racionalidade económica para justificar tamanha discrepância, não conseguiu melhor que o recurso à metáfora da água e dos diamantes. Foi obrigada a recorrer à metáfora precisamente porque não tem argumentos no âmbito da racionalidade económica.

O termo de comparação para os administradores portugueses, quando pensam no seu ordenado, são os administradores alemães, independentemente da produtividade das empresas. Já quando “estudam” os salários dos trabalhadores têm que ter necessariamente em conta a “produtividade das empresas”… Como resultado Portugal continua a desenvolver uma repartição do rendimento terceiro-mundista que cada vez mais nos envergonhará no contexto da União Europeia.

Luc Boltanski explica que os seres humanos convivem bem com uma multiplicidade de justificações contraditórias entre si, que seleccionam em função da situação em que se encontram.
Mais um exemplo. O protesto contra o desrespeito dos Direitos Humanos na China também convive muito bem o crescente consumo dos produtos chineses… não dá jeito nenhum pensar na política quando vamos às compras, não é?


(*) As contas são simples. http://vistodaeconomia.blogspot.com/ indica que o salário médio da administração foi, o ano passado, 164,1 vezes a remuneração média dos outros trabalhadores, no caso da Sonae SGPS – liderada por Paulo Azevedo, filho de Belmiro de Azevedo. 164,1/12=13,7.

2/3 dos professores desceram hoje a Avenida da Liberdade, na "Marcha da Indignação" Março 8, 2008

Posted by netodays in avaliação de desempenho, inequidade, José Sócrates, Milu, motivos da indignação, MST, professores.
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  • Dezenas de milhares de professores convergiram em Lisboa para a “Marcha da Indignação”.
    Foi um protesto de professores sem precedentes. Os sindicatos dizem que cerca de 100 mil estiverem em Lisboa. A PSP aponta para uma adesão de 85 mil pessoas.
    RTP

1ª Foto: RTP. 2ª Foto: EXPRESSO. 3ª Foto: PÚBLICO

Para a história ficam os números, porque é fácil contar cabeças, e como este indicador é mensurável, é exactamente isso que fica objectivado.

O que pensam os professores que se manifestaram, isso é muito mais importante e heterogéneo,
mas não cabe em poucas linhas, nem dá jeito para fazer notícias. Compreende-se bem. Sai tanta legislação sobre educação, que só a conhecessem os professores que a isso são obrigados, mas numa democracia toda a gente tem direito de expressar a sua opinião. Assim, a imagem simplista que ficou dos docentes na opinião pública foi a de uma reles corporação que está a defender os seus actores medíocres.

  • Nesta altura do campeonato já toda a gente percebeu que o problema não está em Maria de Lurdes Rodrigues, como também não estava no sacrificado ministro da Saúde Correia de Campos. O problema é mais fundo, mais antigo e mais complicado de enfrentar: Portugal é, de há muito, um país mental e estruturalmente corporativo e qualquer reforma que qualquer governo intente esbarra sempre contra uma feroz resistência da corporação atingida. E para que serve uma corporação? Para proteger os medíocres, não os bons. Acontece com os professores, com os médicos, com os magistrados, com os agentes culturais, com os empresários encostados ao Estado.
    Miguel Sousa Tavares (EXPRESSO/Assinatura)

Certamente que José Sócrates também lê o artigo deste opinion maker do EXPRESSO. Recordo-lhe que a justiça é sempre concebida em termos relativos. Sem dúvida que é injusto continuar a sobrecarregar os professores com novas tarefas, retirando-lhes os outrora “direitos adquiridos”, sem ter coragem para tocar nos outros servidores do Estado, designadamente nos magistrados e nos políticos. Dói muito dar um clique até ao site da CGA e ver que os professores são os únicos licenciados que contribuem para a redução do défice orçamental. Se José Sócrates tivesse coragem para enfrentar todos os grupos sócio-profissionais com a mesma determinação teria certamente o meu voto, apesar das inúmeras horas de sono que me tem roubado. E para cúmulo, a Ministra é tão habilidosa, que nem terei direito a ser avaliado!