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Interpretando as decisões em diversas situações: os regimes de justificação Julho 15, 2011

Posted by netodays in EDUbloguesPT, justificação doméstica, justificação industrial.
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Para ficarem de acordo sobre aquilo que é justo, as pessoas devem reconhecer um bem comum (Boltanski, Thévenot, 1991:183). Em ordens legítimas, as pessoas compartilham uma humanidade comum expressa numa capacidade comum de ascender ao bem comum. No universo escolar esta humanidade comum expressa-se na igualdade de direitos entre os seres, e noutros que não serão aqui referidos em função dos limites do artigo. O importante é sublinhar que o constrangimento dos actores a ordens legítimas permite agrupar as “normas práticas” em regimes de justificação onde os próprios explicitam as suas actividades.
É obviamente significativo que todos os autores se refiram às ciências da educação, no plural, porque o seu corpo de conhecimentos não se encontra suficientemente estruturado para que constitua uma ciência. As teorias que difundem, são tanto mais consideradas úteis pelos professores, quanto estes nelas revejam orientações práticas, que possam transpor facilmente para as suas actividades escolares, caso contrário serão ignoradas. Seleccionei o Conectivismo como teoria de aprendizagem para interpretar os cenários pedagógicos em que são utilizados blogues porque esta me parece mais actualizada em função do desenvolvimento tecnológico, e portanto com maior utilidade prática. Por imposição das suas necessidades práticas, sucede até o aspecto curioso – constatado no fórum do Moodle – de os docentes adoptarem o “Conectivismo” no seu quotidiano muito antes de conhecerem a sua designação. O reconhecimento de que os actores adoptam regras práticas não inviabiliza o seu estudo porque estes obedecem a regras, seguem modelos e respondem a expectativas. Nas suas actividades pode-se sempre detectar uma certa ordem, que resulta do facto de os intervenientes se reconhecerem em determinados modelos. Neste trabalho são imaginados[1] dois modelos para compreender o entendimento professoral na selecção das tecnologias.  Associados ao Conectivismo, permitirão perspectivar coerentemente as referências que os professores tomam, como pensam, os juízos que fazem, interpretar as suas decisões no contexto das suas acções.
“Para ser válida, a selecção dos diferentes cenários pedagógicos e/ou do design instrucional deve repousar sobre critérios justos, de saberes legítimos e ser levada a efeito em condições de relação entre o designer e os aprendentes que correspondam às relações normais entre os professores e os alunos. É este o momento fundamental sobre o qual se fixa o trabalho de denunciação, que se concentra frequentemente sobre a precisão do dispositivo de prova” (Derouet, 1992:83, remix para o tema). Daqui decorre o meu método de trabalho: irei utilizar a blogosfera para escutar o que alunos e professores disseram sobre as suas experiências de utilização de blogues educativos, verificando em que medida correspondem às expectativas da teoria de aprendizagem, e testando o contributo dos regimes de justificação para um melhor entendimento dos percursos pedagógicos mediados por blogues. Definem-se abaixo os dois regimes de justificação, partindo de diferentes concepções da criança.


[1] Num trabalho mais desenvolvido os regimes de justificação deveriam ser construídos tendo em conta a especificidade do objecto de estudo. Refiro-me a dois modelos imaginados porque irei transpor para a selecção de tecnologias os dois regimes de justificação que se revelaram mais pertinentes para o entendimento professoral da avaliação, num mestrado anterior.    

Redefinindo o Conectivismo, integrando os regimes de justificação Julho 15, 2011

Posted by netodays in Conectivismo, EDUbloguesPT, justificação doméstica, justificação industrial.
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George Siemens que é considerado o precursor do Conectivismo define-o como a teoria de aprendizagem para a idade digital (Siemens, 2004). Contudo podemos atribuir a emergência do Conectivismo ao desenvolvimento tecnológico na Sociedade em Rede descrita por Manuel Castells (1996) ou à Wikieconomia explicitada por Don Tapscott (2008) num primeiro paper de 2000, entre outros. É muito popular a ideia de investir na tecnologia e na educação para obter crescimento económico e desenvolvimento social. Por exemplo, a OCDE promove as inovações educacionais baseadas em tecnologia porque, no longo prazo, possivelmente será a maneira mais efectiva de assegurar os investimentos (OCDE,2010). Neste novo cenário as tecnologias da informação adquiriram um papel mais importante que na antiga estrutura industrial, redefinindo a organização da produção, os modos de fazer negócios, redesenhando as fronteiras entre trabalho e lazer, o significado do tempo de trabalho e o design dos processos de ensino.
Os meios de comunicação e a educação, por exemplo, foram longamente desenhados com via de sentido único, uma estrutura imposta pela hierarquia, que permite a alguns imporem a sua mensagem a muitos (mensagens padronizadas, justificação industrial):
– O jornal publica, os leitores lêem;
– A rádio transmite, os ouvintes ouvem;
– O professor ensina, os alunos aprendem.
A Web 2.0 é uma estrutura alternativa, de dois sentidos, onde todos podem ser produtores e consumidores da informação. O feedback já não é dispensado por nenhuma imprensa, mas nas escolas a introdução das ferramentas da Web dá os primeiros passos. A Web não só permite aos estudantes conhecerem o Mundo de um modo mais realista, como também modificou a forma de contactarem entre si e de se expressarem (mensagens dirigidas a pessoas específicas, justificação doméstica).
A preparação das crianças para o trabalho leva as escolas a organizarem-se nos moldes da justificação industrial – definem num ano o calendário do seguinte, fixando exactamente os recursos a utilizar, os objectivos a atingir e o percurso – mas no decurso das tarefas, tendo em consideração os mais variados interesses dos estudantes, o percurso será frequentemente redefinido, no âmbito da justificação doméstica.
A Sociedade em Rede é mais plural, complexa e flexível que a sociedade industrial, outro bom motivo para interpretar as acções dos actores em diversas situações práticas, escutando as suas justificações.
Siemens  reconhece a autonomia dos alunos, e ainda compreende a frustração de explorar territórios desconhecidos sem mapa. Um professor é um aprendiz de especialistas. Em vez de dispensar o conhecimento, ele cria espaços em que o conhecimento pode ser criado,   explorado e conectado com os estudantes. Enquanto os professores não dominarem muito bem a sua área, eles não aderem ao tutor-centro da sala de aula, recordando estruturas tradicionais  de poder. Um professor equilibra a liberdade individual dos aprendizes (justificação doméstica) com a interpretação cuidadosa do assunto a ser explorado (justificação industrial). Enquanto os alunos estão livres para explorar, eles encontram esquemas, conceitos e artefactos representantes da disciplina. Sua liberdade para explorar é ilimitada, mas quando eles se envolvem com o assunto, os conceitos-chave da disciplina são transparentemente reflectidos através das acções de tutoria do professor (Siemens, Tittenberger, 2009:31).
Na perspectiva tradicional, a ciência e o conhecimento são um conjunto de proposições. Aprender é ser capaz de se recordar do corpo destes “factos e princípios” (DOWNES, 2009) e as teorias de aprendizagem existem para a construção de cenários dos processos de ensino (justificação industrial), mas…. Como os factos e o conhecimento estão em constante progresso, o que é importante é a conectividade, pelo que o papel dos alunos é participarem em comunidades práticas de aprendizagem (ibidem). As teorias de aprendizagem têm uma lógica que se fundamenta na aquisição de capacidades e competências, mas o que interessa aos estudantes é o contributo do processo de aprendizagem para dialogarem numa linguagem comum (ibidem), processos que são sempre alvo de reformulação na sua prática (justificação doméstica) para se ajustarem aos interesses dos estudantes.
Para o Conectivismo um conceito central é o de aprendizagem situada: a aprendizagem como normalmente ocorre é uma função da actividade, do contexto e da cultura no qual ocorre. Quando define uma ecologia da aprendizagem, o Conectivismo atribuiu uma importância especial ao contexto. Enquanto outras teorias prestam uma atenção parcial ao contexto, o Conectivismo reconhece a natureza fluida do conhecimento e das conexões com base nos contextos. Assim, torna-se cada vez mais vital que não nos concentraremos nos conhecimentos pré-fabricados ou pré-definidos, mas nas nossas interacções com os outros e o contexto em que essas interacções surgem. O contexto traz tanto a um espaço de conexão de conhecimento/troca como a fazer as partes envolverem-se na troca (Siemens, 2008). Os blogues têm interesse como ferramenta para criar conexões e arquivar conteúdos interessantes. As conexões têm maior valor quando geram um certo tipo de conteúdo para o aluno. Não é o conteúdo, em geral, que os alunos querem. Eles querem conteúdo que seja actual, relevante e contextualmente apropriado (Siemens, 2010).

Para Siemens (2004) a aprendizagem é “a process that occurs within nebulous environments of shifting core elements – not entirely under the control of the individual”. Uma vantagem de combinar os regimes de justificação com o Conectivismo é tornar as acções previsíveis, considerando os constrangimentos morais dos actores nas situações. Para o autor a aprendizagem consiste em “formar redes: adicionar novos nós e criar novos caminhos neurais” (2006:41) e caracteriza-se por ser um processo caótico, contínuo, co-criativo, complexo, de especializações conectadas e de certezas continuamente suspensas (ibidem), como no método científico. Definiu a aprendizagem como um processo contínuo que ocorre em comunidades de prática, redes pessoais ou grupos de trabalho, e estabeleceu os princípios do Conectivismo (2004):
1 – Aprendizagem e conhecimento repousam na diversidade de opiniões;
2 – Aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou fontes de informação;
3 – Aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos;
4 – Capacidade de saber mais, é mais crítica do que é conhecido actualmente;
5 – Cultivar e manter conexões é necessário para facilitar a aprendizagem contínua;
6 – Habilidade de visualizar conexões entre áreas, ideias e conceitos é uma habilidade fundamental;
7 – Conhecimento actualizado (exacto,  actualização do conhecimento) é a intenção das actividades de aprendizagem conectivistas;
8 – Tomar decisões é em si um processo de aprendizagem. Escolher o que aprender e o significado das informações que chegam é visto através da lente de uma realidade em mudança. Uma resposta que está certa agora, pode ser errada amanhã devido a alterações no clima informações que afectam a decisão.
Siemens ainda sugere que o conhecimento pode residir em bases de dados, as quais serão conectadas por pessoas. Os blogues são certamente a ferramenta da Web que mais facilmente reúne estas funções. A acumulação de posts acaba por reunir gigantescas bases de dados nos blogues que são comentados pelos visitantes habituais, frequentemente outros bloggers. A intensidade do calor comunitário que eles mesmos criam, resulta da robustez dos vínculos criados na própria blogosfera. Adoptando a lógica do Conectivismo apresentado por Siemens a rede teria sempre mais nós, crescendo tendencialmente para infinito. O único limite seria o tempo disponível. Utilizando a lógica do regime de justificação doméstica, a procura do calor comunitário leva os indivíduos serem mais selectivos, introduzindo limites ao crescimento das conexões.

Regime de justificação industrial: As crianças como futuros trabalhadores Julho 15, 2011

Posted by netodays in EDUbloguesPT, justificação industrial.
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No regime de justificação industrial a criança é encarada como um futuro trabalhador. Portanto, os professores deverão treinar os alunos com as competências necessárias para que no futuro o seu trabalho seja mais eficaz. A verificação das aprendizagens faz-se no final do processo, sendo o exame a prova por excelência do sucesso.
O conceito de tarefa escolar entrou na pedagogia por transposição do conceito que Taylor criou para a indústria, onde as tarefas se encontram padronizadas. Estas são acompanhadas de instruções que as permitem executar com a máxima eficácia. Seguindo-as o sucesso é garantido. Reduzindo o aluno a um autómato, a justificação industrial apresenta a educação como um mero problema técnico. “O objectivo não é o saber, nem o saber-ser, mas uma série de saberes-fazer que a pedagogia por objectivos decompõe em sábias taxinomias, como o taylorismo tinha decomposto as tarefas industriais” (Derouet, 1992:106).
“A justificação industrial legitima um sistema de ensino demasiado abstracto, intelectual, individualista e egoísta” (ibidem). O funcionamento deste sistema exige que ele recorra à medição de desempenhos mensuráveis. O problema do sistema que se fundamenta na eficácia é que “no domínio da educação não existe uma definição precisa do produto esperado, nem os instrumentos são fiáveis para avaliar a sua qualidade” (ibidem). Como medir o “produto fabricado” pelo professor nas suas turmas? Como medir o “valor acrescentado” incorporado em cada aluno? Uma reflexão séria concluirá necessariamente pela impossibilidade de lhes responder satisfatoriamente, porque a educação não é mensurável.
Se for predominante esta concepção do estudante, que é dominante no 12º ano de escolaridade em resultado das preocupações com os exames nacionais, dificilmente serão utilizados blogues. Se forem, não passarão de uma ferramenta adicional de carácter facultativo, porque:
– o esforço reflexivo a que a sua escrita obriga não é compensado em termos de resultados, que se obtêm mais facilmente com um ensino formatador. No 12º ano supõe-se que aprendem todos a mesma coisa, ao mesmo tempo. Por isso, deverão todos ser avaliados ao mesmo tempo, pelos mesmos critérios, num teste;
– a avaliação de blogues é muito problemática.

Stephen Downes – O Papel dos Recursos Educativos Abertos na Aprendizagem Pessoal Julho 11, 2011

Posted by netodays in ambiente de aprendizagem, justificação doméstica, justificação industrial, recurso-estratégia.
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Contributo para a justificação industrial

  • Na perspectiva tradicional, a ciência e o conhecimento são um conjunto de proposições. Aprender é ser capaz de se recordar do corpo destes “factos e princípios”, mas…
  • Uma métrica de capacidades e competências.

Contributo para a justificação doméstica

  • Como os factos e o conhecimento estão em constante progresso, o que é importante é a conectividade, pelo que o papel dos alunos é participarem em comunidades práticas de aprendizagem.
  • Contributo para dialogar num linguagem comum

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