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Metáforas – A linguagem vazia do debate público Outubro 28, 2012

Posted by netodays in legitimidade política.
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A utilização de metáforas em economia é o que mais se escuta/lê na comunicação social. Particularmente os economistas adoram a linguagem da medicina. “As doses adicionais do mesmo medicamento vão tendo cada vez menor efeito”, “é preferível uma terapia gradual que uma terapia de choque, para evitar que o doente morra da cura”, “se o tratamento começar mais tarde, será mais doloroso”, “é preciso extirpar tumores”, “contrariar a obesidade mórbida do Estado”, “evitar as septicemias na economia”,… “é preciso cortar as gorduras do Estado”, etc. Na verdade são utilizadas muitas outras referências:

Um grego, um português e um irlandês vão a um bar tomar umas bebidas. A piada da coisa é que no fim da noite quem paga a conta é o alemão!

Portugal é como um avião com quatro motores, mas só um é que está a trabalhar!

Adam Smith recorreu à “mão invisível” para enfatizar a acção do mecanismo de preços, mas descreveu como este funcionaria. É fácil de perceber que a alegoria por si não explica nada, sendo necessário conhecer as leis da oferta e da procura.

Facilmente se percebe que as metáforas por si não explicam rigorosamente nada, sendo apenas utilizadas para produzir sound bits que as pessoas memorizem, e reinterpretem a seu belo prazer. Exemplo: Todos concordam com ao corte das gorduras do Estado, mas o Governo tem reduzido os vencimentos dos funcionários públicos – que ninguém imaginava como gordura antes das eleições – e tem deixado intocáveis as PPP, as fundações, as autarquias, as mordomias dos políticos, a renegociação dos juros a pagar à Troika,…

Escrevo este post para registar o último abuso escandaloso das metáforas:

  • Vítor Gaspar afirmou: “Como sabem, os corredores de maratona, em geral, não desistem ao 27.º quilómetro, desistem entre o 30.º e o 35.º quilómetro. Uma maratona torna-se cada vez mais difícil e os atletas têm os seus maiores desafios na fase final da maratona. É isso exactamente que acontece com um programa de ajustamento”.
    http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=586757

É evidente que isto não explica nada. É como responder que não interessa chegar ao fim da maratona, se no final estamos todos mortos! Mas a verdade é que são estas tretas que ouvimos dos “economistas” no debate público. Desistiram de explicar Economia!

Uma possível explicação é que os media lhes dão escassos segundos para fazerem passar as suas ideias, e então têm que as simplificar. Mas o debate se limitar à reprodução de frases vazias, qual será a sua utilidade? E qual a legitimidade política dos eleitos num debate vazio de conteúdo?

Miguel Relvas: Direito e Moralidade Agosto 16, 2012

Posted by netodays in legitimidade moral, legitimidade política, moral, Relvas.
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Em qualquer área disciplinar os profissionais gostam de se intitular “cientistas”, mesmo no Direito. Então para fugirem à relatividade dos sistemas jurídicos em função das culturas e à evidência da sua construção no tempo, restringem a “Ciência do Direito” à compreensão e prática dos aspectos jurídicos (Ascenção, 2005), remetendo outras dimensões da realidade para ciências afins.

Desde modo os juristas deixam de compreender o mundo real, percorrendo as vias estreitas dos princípios jurídicos e da legalidade que eles próprios constroem, interpretações essas cada vez mais abstractas e pobres, limitando-se a verificar o cumprimento da legalidade que definem.

Situação exemplar da pobreza do Direito é a opinião do antigo Bastonário da Ordem dos Advogados de Portugal, José Miguel Júdice:

Não deixa de ser caricato que um advogado de primeira linha tenha dúvidas quanto ao cumprimento da legalidade. Diz que o caso não configura “aparentemente” uma ilegalidade (sic), e como a “Ciência” o impede de se referir a valores morais, só vislumbra a “maledicência portuguesa”, sem procurar entender a origem das denúncias públicas.

Poderemos imaginar Miguel Júdice na barra do Tribunal defendendo Relvas:

  • O ministro Miguel Relvas foi vítima de uma coisa muito portuguesa, toda a gente tem que ser doutor, noutros países mais civilizados do que Portugal ninguém se preocupa muito em ser doutor. A mania de ser doutor é que dá isto, se não houvesse esta mania de ser doutor, ele não teria feito aquela solução que é legal, mas que foi ridicularizada na praça pública. Visto que Miguel Relvas já pagou aí o preço do seu infortúnio deverá ser absolvido do crime de narcisismo.

Do ponto de vista dos experts em Ciência do Direito, estes não devem considerar quaisquer elementos de natureza moral, porque estes aspectos humanos não são “normalizáveis” e lá perderiam a “Cienciazita” do Direito.

As pessoas comuns exigem que os políticos, além de cumprirem as normas legais que estabelecem para a comunidade, também se sintam pessoalmente constrangidos a respeitar as normas que a Sociedade impõe a cada um de nós, sem necessidade de os juristas as criarem. “Não matarás!”, certamente começou por ser uma regra social, muito antes de integrar o sistema jurídico. “Não mentirás!”, norma que, como se vê, não foi integrada no ordenamento jurídico português, é pedra de toque do sistema de valores morais.

Se Relvas tivesse concluído a Licenciatura como os outros estudantes, não haveria qualquer reparo nem em termos de legalidade nem de moralidade. O que as pessoas comuns entendem normal, é que se lute pela vida, e designadamente que se cumpra um determinado percurso escolar para obter o correspondente título académico. Os juristas usam uns óculos que apenas lhes permite observar a legalidade. Para as pessoas comuns é importante que todos sejam tratados nas mesmas circunstâncias, com igual dignidade e respeito pelo bem comum. Designadamente, o mérito académico deverá depender exclusivamente do trabalho escolar evidenciado, que deste modo subordinam os seus interesses pessoais ao interesse da colectividade. A Licenciatura de Relvas, oferecida pelos amigos maçons, trata-se de um claro privilégio que não pode ser concedido a outras pessoas (não disse estudantes!), porque colocou os “espertos” acima dos “esforçados”, ultrapassando todas as regras indispensáveis para conduzir os estudantes a trabalharem pelo bem comum.

Os juristas bem podem inventar um quadro legal para legitimar a situação, tornando-a aparentemente aceitável, mas moralmente nunca será. A moralidade do acto reside na subordinação do indivíduo aos interesses da sociedade (Durkheim).

O mais incrível é que neste país, mesmo os Ministros sem qualquer legitimidade moral, continuam com legitimidade política! Depois – sem vergonha – dizem que os assobios são normais em democracia!

“O Povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”!? Outubro 5, 2010

Posted by netodays in legitimidade política.
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Disse um cromo da política portuguesa:

Ou disse a expressão por distracção, e então terá sido um lapso. Ou quis enfatizar a legitimidade do Governo para impor um pacote particularmente duro, mas foi infeliz, porque deixou escapar uma expressão estúpida.

20 valores para Marcelo Rebelo de Sousa quando observa que «Há uma formula que os portugueses, em tempo oportuno, poderão utilizar para que Almeida Santos e os seus amigos não sofram tanto», passando-os para a oposição.

As pessoas têm o direito de se manifestar… Março 9, 2008

Posted by netodays in José Sócrates, legitimidade política.
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  • As pessoas têm o direito de se manifestar. Mas era o que faltava se a acção governativa dependesse agora do nível das manifestações. Quem determina a acção governativa são os portugueses quando escolhem o governo. É bom que não nos esqueçamos disso.
    José Sócrates

Já sabemos que o PS não tem oposição. Falta saber até quando os barões do PS suportarão Sócrates.

Uma pedra no sapato de Sócrates Fevereiro 22, 2008

Posted by netodays in José Sócrates, legitimidade moral, legitimidade política.
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Sócrates não tem legitimidade para impor a avaliação dos professores, porque qualquer um destes fez uma licenciatura a séria, enquanto a sua lhe saiu na farinha amparo. Atente-se na seguinte observação:

  • A avaliação do desempenho dos professores é a referência mais recente e persistente na demagogia do discurso de Sócrates. Com a arrogância que lhe conhecemos, tem falado dela com a mesma ligeireza com que projectou vivendas sobre estábulos ou prestou provas de licenciatura por fax.
    Santana Castilho,PÚBLICO, 20/Fev/2008

Explicando-me melhor. Tem legitimidade política porque o seu partido obteve o numero suficiente de votos. Não tem legitimidade moral porque o seu comportamento e as suas atitudes são largamente condenáveis e nada exemplares. Como as propostas do PS e do PSD dificilmente se distinguem, porque a política de fundo é a mesma, o carácter das pessoas tornou-se particularmente importante para avaliar as suas propostas. A sorte de Sócrates é que do lado da oposição também não se apresenta ninguém sem telhados de vidro.