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Os Paradigmas Positivista e Interpretativo Novembro 5, 2011

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No contexto do paradigma positivista, o objecto geral da investigação é definido em termos de comportamento; o investigador que utiliza categorias de classificação predeterminadas para a observação destes comportamentos, “pressupõe uma uniformidade de relações entre a forma do comportamento e o seu significado, de modo que o observador pode reconhecer o significado de um comportamento sempre que este se produz” (Erickson, 1986:132). Este postulado, decalcado da “uniformidade da natureza”, foi tomado de empréstimo às ciências naturais pelos investigadores positivistas das ciências sociais e pressupõe que:
“os animais e os átomos manifestam comportamentos (“behave”) de modo constante quando em circunstâncias idênticas. Além disso, o comportamento de uma pessoa dirigido para uma outra pode ser considerado como uma causa de mudança nesta última” (Erickson, 1986:126).    
O positivismo reconhece que:
– o mundo social é inacessível na sua essência; só o mundo dos factos é cientificamente analisável (fenomenalismo); “os factos devem ser tomados como coisas”, na expressão de Durkheim;
– o mundo subjectivo, o da consciência, da intuição e dos valores, escapa, como tal à ciência (objectivismo);
– a observação exterior, o teste empírico objectivo, é o único guia das teorias científicas, sendo a compreensão e a introspecção rejeitadas como métodos não passíveis de controlo (empirismo);
– a noção de lei geral encontra-se no centro do programa positivista, modelo simples e eficaz que justifica uma classe determinada de fenómenos (nomotetismo);
– o conhecimento das estruturas essenciais e das causas fundamentais e finais é ilusório. O sinal de um conhecimento verdadeiro é a sua capacidade de predizer acontecimentos que pertencem à esfera da pertinência das leis que estabeleceu (previsionismo) (Herman, 1983:10).
Os partidários deste tipo de investigação manifestam um grande interesse pela medição da eficácia no ensino. De um ponto de vista teórico, este tipo de investigação postula “que aquilo que é comum às classes vai emergir dos diferentes estudos e que as variações subtis entre classes são insignificantes e serão eliminadas durante a análise onde serão tratadas como erro de variância” (Erickson, 1986:131).
O paradigma positivista prescreve a uniformidade da vida social através dos comportamentos normalizados e dos seus significados, visando a descoberta e verificação de leis gerais; o individual é considerado sem interesse e não significativo em si mesmo.
No contexto do paradigma interpretativo, o objecto de análise é definido em termos de acção, uma acção que abrange o comportamento físico e ainda os significados que lhe atribuem o actor e aqueles que interagem com ele. Sublinha-se que este corresponde ao conceito weberiano de acção social, uma vez que é a referência aos outros que a dota de significado. Face ao objecto acção-significado (“meaning-in-action”), o investigador postula uma variabilidade das relações entre formas de comportamento e os significados que os actores lhes atribuem através das suas interacções sociais. Em suma, comportamentos idênticos de um ponto de vista físico podem expressar significados diferentes e mutantes de uma perspectiva social, como é o caso dos comportamentos que manifestam a identidade social, o papel ou o estatuto dos actores numa classe ou numa escola. O trabalho do investigador centra-se nesta variabilidade das relações “acção-significado” e visa ao nível do pólo teórico, a descoberta “de esquemas específicos da identidade social de um dado grupo” (Erickson, 1986:132).     

Quais os paradigmas em que se pode inserir a investigação educacional? Outubro 29, 2011

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1 Paradigma Positivista
2 Paradigma Interpretativo
3 Paradigma Crítico

Quando os dados observados são numerosos, entra-se geralmente no reino da estatística, e o paradigma positivista é dominante. No positivismo a referência é Durkheim, para quem os factos sociais são coisas, isto é, são fenómenos em si mesmos, desligados dos sujeitos conscientes que deles têm apenas representações. O objectivo da investigação é encontrar regularidades entre as diversas estruturas. Exemplo: estudando os rankings de escolas pode descobrir-se que as classificações de exame são mais elevadas nos concelhos com maior poder de compra.

Na sua obsessão para adquirirem o estatuto de “ciência” os primeiros sociólogos transpuseram das ciências experimentais para as ciências sociais a sua metodologia, permanecendo ainda hoje na estrutura do pensamento como referência da objectividade, da neutralidade científica e do pensamento racional.

As ciências sociais têm limitações(*) específicas relativamente às ciências experimentais, e portanto deverão desenvolver a sua própria metodologia. O paradigma interpretativo tem como objectivo a compreensão e descrição das condutas dos sujeitos, partindo de um sistema de significados criado e sustentado pela própria teoria. Aqui a referência é Weber, que explicitou a acção social como um comportamento humano (quer consista num fazer externo ou interno, quer num omitir ou permitir), sempre que os agentes lhe associem um sentido subjectivo. Mas deve chamar-se acção “social” aquela em que o sentido intentado pelo agente ou pelos agentes está referido ao comportamento de outros e por ele se orienta no seu decurso. Por exemplo, se um estudante se trancar no seu quarto a estudar ou for gozar o tempo livre apanhando Sol sozinho isso não é acção social porque a acção não está a ser orientada em função dos outros. Porém, quando manifesta que estudou ou não perante a turma, essa acção já tem uma intenção social, sendo susceptível de ser interpretada em função dos valores sociais.

Os indivíduos, como seres sociais que criam significados e dão sentido ao seu mundo, apresentam justificações para as suas acções em diferentes situações, que poderão ser estudadas reunindo as justificações análogas, e procurando descobrir as suas lógicas. Podemos ter o preconceito de que esta análise não será tão objectiva quanto o tratamento de indicadores estatísticos, mas não há outra forma de captar a complexidade e diversidade das condutas humanas. Por exemplo, o mesmo aluno que argumenta que todos devem fazer os mesmos testes invocando a igualdade, também poderá requerer um teste especial para si invocando a humanidade, se faltou ou tiver classificação baixa, ou poderá simplesmente dizer que quem manda é o professor, invocando a autoridade hierárquica, se imaginar que com essa decisão obtêm uma classificação melhor com menos trabalho. Esta riqueza de justificações poderá ser estudada adoptando a sociologia pragmática, que constitui a grande inovação teórica da área. A solução para saber o que os alunos pensam dos testes – ou desenvolver qualquer outro tema – passa por escutar as justificações apresentadas pelos interessados em diversas situações de disputa e reunir as observações semelhantes, construindo uma grelha de análise com os regimes de justificação relevantes para a compreensão e interpretação do tema.

O paradigma crítico é frequentemente referido como investigação-acção. O conhecimento da situação alia-se à transformação da mesma a partir dos resultados da pesquisa. Nesta perspectiva, critica-se o conhecimento meramente contemplativo que separa os-que-sabem-mas-não-fazem dos que fazem-mas-não-sabem. Exemplo: para apresentar técnicas pedagógicas com sucesso na Matemática exige-se que o investigador as teste numa ou várias turmas.


(1) – Em ciências sociais não podemos colocar os seres humanos num laboratório e experimentar efectivamente, portanto as nossas experimentações traduzem-se apenas na recolha de novos dados empíricos. Além disso, a neutralidade do investigador é mais difícil de conseguir nas ciências sociais, porque facilmente participa no problema investigado.