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"Na realidade, os professores não aceitam a avaliação", Milu dixit Julho 27, 2009

Posted by netodays in avaliação de desempenho, Milu, procedimento simplificado.
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Seguem-se alguns recortes da entrevista que Milu concedeu ontem ao DN.

  • Se fizer a contabilidade, tem 8 grandes greves, 7 grandes manifestações, 3 vigílias, 2 cordões humanos e 8 abaixo-assinados com 320 mil assinaturas. Bateu o recorde?

    Não fiz essas contas (…) São naturais estas reacções e podem-se explicar, mas não significa que aceitemos os pontos de vista. Creio que os conflitos são resultado da perplexidade e da incerteza de não se saber como vai ser.

A arrogância continua. Ela é que sabe o caminho, independentemente da quantidade de pessoas que manifeste a sua discordância.

(…)

  • O modelo de avaliação que quer implantar ainda não passou da versão simplificada?

    Sim, mas no essencial a sua estrutura de princípios não difere muito do modelo inicialmente proposto. Entendeu-se que há um caminho a percorrer mais lento do que inicialmente gostaria, mas não modifica a natureza do objectivo.

Isto quer dizer que o essencial são mesmo as quotas, porque entre os parâmetros do procedimento simplificado e o DR 2/2008 não há comparação possível em termos de trabalho exigido aos avaliados.

  • Mais lento porque os sindicatos dos professores não aceitam essas medidas?
    Sim. Na realidade, não aceitam a avaliação. Escudam-se por detrás dos argumentos de modelos deste ou daquele tipo de avaliação, mas o que acontece é mesmo a rejeição da avaliação.
  • Os professores recusam ser avaliados?
    Há uma rejeição que se pode exprimir através dos mais diversos argumentos. De que não é este o melhor modelo, que não é com estes professores, que não é na escola… É sempre assim porque, quando não estão de acordo, aí, todos os argumentos são válidos para contestar.
  • É da opinião que os sindicatos são contra porque os docentes evitam ser avaliados?
    Não diria isso, porque acho que muitos professores querem ser avaliados e a prova é que houve uma grande adesão mas também há muito receio neste processo. E aqui os bons professores podiam ser um motor de mudança, porque não há nenhuma razão para um bom professor ter medo da avaliação. Os bons professores não podem ter medo nem misturar-se no ruído que apela à indiferenciação e a considerar que todos são iguais. Houve cem mil professores sujeitos à avaliação este ano e é por aqui que o terreno tem de ser conquistado, a bem das escolas e dos próprios professores. Há uma parte significativa de professores que tem medo da consequência.

Preto no branco, na perspectiva de Milu, os professores não aceitam ser avaliados. Quem não sabe o que se passa pode ser levado. O que sucedeu foi que alguns dos professores prepararam duas ou três aulas diferentes das normais para o espectáculo da avaliação. A observação do desempenho dos docentes deveria ser representativa do seu trabalho, e só assim seria justa.

Agora os oportunistas que se valeram da chance proporcionada pelo procedimento simplificado são utilizados pelo ME para tentar legitimar o processo e amedrontar os docentes. Estes coleguinhas que andaram a brincar ao faz de conta com a sua avaliação são agora o melhor argumento que Milu tem para defender a cristalização da avaliação do desempenho.

Não interessa à propagando do ME, mas em abono da verdade deve dizer-se que a larga maioria dos docentes foi avaliada apenas administrativamente, não se distinguindo o procedimento simplificado do anterior DR 11/98, excepto no caso daqueles que pretendiam classificações acima de Bom.

O procedimento simplificado para a avaliação de professores, reduz-se aos seguintes elementos: (1) ficha de auto-avaliação; (2) assiduidade; (3) serviço distribuído; e (4) acções de formação. Este não decorre de qualquer concepção da educação ou da avaliação… É apenas o resultado da relação de forças entre os agentes.

Cristalização da avaliação do desempenho docente Julho 17, 2009

Posted by netodays in avaliação de desempenho, procedimento simplificado.
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O ME publicou um post onde invoca várias razões para justificar o trabalho que fez no âmbito da avaliação do desempenho dos professores, e concluir que o que deve fazer agora é “prorrogar a vigência do actual regime transitório”, pois será necessário “um período transitório de consolidação da experiência em curso”.

O núcleo central do modelo economicista surge legitimado pela OCDE (1) e apresentado como temporário em duas linhas muito breves: “O estudo da OCDE apoia ainda expressamente a manutenção de quotas para as classificações superiores até à plena maturidade de uma cultura de avaliação”: Este aspecto que nunca poderá ser aceite pelos professores, será a alavanca da contestação.

Porém, outros aspectos são elucidativos da cristalização do modelo de avaliação, como os denominados “pontos fortes”, que já raramente são discutidos. Escolhi três desses aspectos para este post:

1. Retórica: É um sistema integral, que incide sobre a generalidade dos aspectos do trabalho dos docentes.

Na verdade os aspectos considerados são os mais fáceis de objectivar (observar, contar). O trabalho que faz a diferença entre os docentes, o trabalho criativo, não é observado sistematicamente.

2. Retórica: Inclui uma componente de avaliação por pares mais qualificados.

A partir de determinado momento, particularmente nos departamentos mais heterogéneos, os professores terão simplesmente qualificações diferentes, não sendo possível para os melhores a avaliação por pares mais qualificados.

3. Retórica: Estabelece a observação de aulas como factor fundamental para a avaliação da vertente pedagógica e do desenvolvimento profissional.

O que os avaliadores têm estado a observar em duas ou três aulas é a reacção das turmas e dos professores à sua presença. Uma observação séria exigiria a sua integração no grupo, e para contribuírem para o desenvolvimento profissional dos docentes deveriam ser capazes de lhes sugerir novas estratégias de inovação pedagógica.

A melhor fonte de cristalização é a prática. Daí que o maior brilharete do ME esteja neste parágrafo:

“A avaliação é hoje um dado adquirido em todas as escolas. Foi organizada por milhares de professores avaliadores que desenvolveram competências em procedimentos de avaliação. Participaram no processo de avaliação mais de 100.000 professores que entregaram os seus objectivos e que obterão a sua classificação até ao final do presente ano”.

Não temos elementos para confirmar os 100.000 professores, mas não há dúvida que se trata de propaganda porque se a referência contínua a ser o modelo “puro”, o DR 2/2008, que abortou sem nunca ter sido adoptado em qualquer escola, a estatística refere-se ao procedimento simplificado para a avaliação de professores, reduzido aos seguintes elementos: (1) ficha de auto-avaliação; (2) assiduidade; (3) serviço distribuído; e (4) acções de formação. Os elementos fáceis de contar 😉

A repetição da retórica, vezes sem conta, vai tornando aceitáveis uma série de coisas que anteriormente pareceriam estranhas. Este post foi escrito para que a retórica não torne indiscutível o que foi decidido arbitrariamente, discutindo racionalmente alguns aspectos que já pareciam aceitáveis a muitos.

Adenda


(1) O post do ME refere-se a estudos da OCDE e da Deloitte, mas curiosamente nunca apresenta links para os mesmos. Isto é, pede-nos simplesmente que acreditemos na sua interpretação. Precisavam de umas aulas minhas 😉

Bardamerda para o entendimento! Abril 16, 2008

Posted by netodays in Ana Benavente, avaliação de desempenho, FENPROF, Milu, procedimento simplificado, professores, Socratelândia.
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Os professores não mudam de opinião de um dia para o outro. Os sindicalistas é que devem estar com vontade de ir passar as férias às Caraíbas, e por este ano querem dar o seu “trabalho” como cumprido.

É significativo que numa amostra tão pequena já se refiram tantas escolas a votar contra. Reparem que não estão a votar contra o procedimento simplificado adoptado este ano lectivo, mas contra o modelo chileno que o ME teima em impor em 2008/09. Portanto é abusivo afirmar que os

  • Professores aprovam por “esmagadora maioria” acordo com Ministério da Educação

PÚBLICO, 15.04.2008

Teve razão Ana Benavente quando classificou este entendimento de “chantagem”. Efectivamente…

  • …“quando escolas afirmam que não têm condições para fazer a avaliação este ano”, dizer aos professores contratados que “no próximo ano não serão colocados”, é “ameaçar com o desemprego”. “Isto é uma forma de chantagem”.
PÚBLICO, 15.04.2008

Posso mesmo afirmar que na minha escola, o sentimento generalizado entre os colegas com os quais falei era de espanto. Ninguém esperava que os Sindicatos chegassem a um compromisso com ME neste momento do calendário escolar. Aliviar a Milu da avaliação de 7.000 professores este ano, para recomeçar em Setembro com o modelo que parametriza todo o processo educativo, para tornar cada docente num valor comparável através de escalas de equivalência previamente concebidas para a redução despesa pública com a educação, só porque é considerado excessivo o défice orçamental, no quadro da União Europeia… bardamerda para o entendimento! Porque não uma Assembleia da República apenas com 100 deputados (como propôs António José Saraiva) e com menos mordomias?

Memorando de Entendimento Abril 13, 2008

Posted by netodays in agenda oculta para a educação, avaliação de desempenho, Durão Barroso, FENPROF, humilhação dos professores, Memorando de Entendimento, Milu, procedimento simplificado, Raul Iturra.
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Memorando de Entendimento Abril 13, 2008

Posted by netodays in agenda oculta para a educação, avaliação de desempenho, Durão Barroso, FENPROF, humilhação dos professores, Memorando de Entendimento, Milu, procedimento simplificado, Raul Iturra.
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Fica aqui arquivado o documentoBackup do Documento – assinado entre o ME e a FENPROF, que inventou o procedimento simplificado para a avaliação de professores, reduzido aos seguintes elementos: (1) ficha de auto-avaliação; (2) assiduidade; (3) serviço distribuído; e (4) acções de formação, quando obrigatória e desde que existisse oferta financiada nos termos legais.

ME e Sindicatos clamaram vitória, como se tivessem chegado a alguma coisa. Apenas compreendo que ambos os lados precisassem de salvar a face. O nome que deram ao documento indica bem que apenas se trata de uma declaração de princípios sobre banalidades.

Milu, também passou pela escola eme-ele, tendo-se tornado recentemente o expoente máximo da defesa do neoliberalismo na educação. Ver testemunho do professor Raul Iturra e artigo sobre a agenda oculta para a educação.

O texto não representa nenhum acordo, porque o ME continua com a sua agenda, e os Sindicatos voltarão a exigir novas simplificações do DR nº 2/2008. Recorda-se que o Memorando o prevê a abertura de diversos “processos negociais”. Neste sentido entenderam-se para uma breve trégua…

Portanto, neste caso, o título do PÚBLICO é enganador:

Paradoxalmente, a imagem transmitida para a opinião pública por ambas as partes é de satisfação com o “trabalho realizado”. Só que as posições estavam (e continuam) extremadas… Seria a mesma coisa que no final de um jogo de futebol ganharam ambas as equipas 😉

Os Sindicatos já deixaram o aviso: